terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Um poema do poeta francês Paul Éluard

GRITAR



Aqui a acção simplifica-se

Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo falavam e escreviam

Demasiado baixo


Fiz retroceder os limites do grito


A acção simplifica-se
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida


Que lhes destinava um lugar perante mim


Com um grito


Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver



Estou perfeitamente seguro agora que o
Verão Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações


As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem
E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria


E esse fogo nu que pesa~
Torna a minha força suave e dura
Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos


Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco.

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